Entre o falastrão e o bizantino, os dilemas da adesão docente ao movimento sindical
Luis Paulo V. Braga
De um lado a pilha de contas, do outro um contra-cheque, ilusoriamente generoso, pois ali estão acumulados três meses de GTMS atrasados. Para o futuro, o receio de que a inflação rebaixe os ganhos de longo prazo (três anos), celebrados no acordo feito, em nome da categoria dos professores das instituições de ensino superior federais, por uma das entidades que pretendem representá-la. Ao final do ano passado o PROIFES anunciava triunfalmente que nunca na história do movimento teria sido celebrado um acordo tão bom como aquele patrocinado pela CUT e por alguns deputados da base governista. No entanto, após meses de sucessivos adiamentos e alterações, quando, finalmente, o acordo começa a ser cumprido, a sensação é de que ele não é tão bom assim, e a comemoração cede lugar a um misto de inquietação e decepção. No extremo oposto do espectro sindical o ANDES, que desembarcou ou foi desembarcado das negociações por não assinar o acordo, na impossibilidade de apresentar ganhos imediatos aos seus associados propõe ações de longo prazo, dentre elas o fortalecimento do CONLUTAS, como forma de impor ao governo e ao capital suas reivindicações.
Se há pelo menos duas opções de engajamento, ambas vem demonstrando fraqueza e resultados insuficientes. O PROIFES fundado em 2004, sob o estigma da chapa branca, congrega até hoje apenas cinco associações docentes. Por outro lado o ANDES vê declinar desde então a participação nas eleições nacionais, entre 19.000 e 21.000 votantes de 1996 a 2002, para 11.000 a 13.000 votantes de 2004 a 2008.
No campo jurídico o cenário não é melhor, a Associação Docente da Universidade Federal de São Carlos, berço do PROIFES não conseguiu se transformar em sindicato. Por outro lado o ANDES encontra-se num imbroglio jurídico para recuperar seu registro sindical perdido em função da sua atuação no setor privado que pela lei atual é de competência de outro sindicato o SINPRO. A situação se agravou a tal ponto que no último CONAD decidiu-se realizar um Congresso Extraordinário para discutir a oportunidade ou não de se continuar a atuar naquele setor (privado).
Embora ambas as entidades exprimam em seus estatutos a independência em relação aos partidos políticos na prática eles influenciam os rumos da ação sindical. Não é segredo para ninguém a importância do PT e do PC do B no PROIFES, e do PSOL e do PSTU no ANDES. Historicamente tem sido assim na maioria dos sindicatos latino-americanos. Exigir ao associado que se licencie do partido enquanto estiver no sindicato seria um freio a esta intervenção. Na vida nacional vimos, recentemente, a absurda acumulação de cargos de um ministro e presidente de partido.
Os processos decisórios em entidades de caráter democrático são mais lentos do que em órgãos meramente operacionais. Fica pior ainda quando se combina centralização com democracia. Os Congressos do ANDES e acredito também os do PROIFES, se por um lado, têm uma ampla e interessante pauta de discussão, por outro, engessam a atuação de seus membros pelo resto do ano. Há decisões absurdas tomadas em Congressos Nacionais do ANDES como, por exemplo, a rejeição a todas as formas de ensino a distancia que, ao invés de trazer a discussão para dentro do sindicato, exclui e aliena suas lideranças de um processo que está se dando de forma abrangente em todo o país. Mesmo nas seções sindicais o centralismo vai totalmente contra a dinâmica que os fatos estão a exigir. A comunicação ainda é prioritariamente unidirecional, concedendo-se à maioria dos associados o mero direito de levantar a mão em uma assembléia presencial, ou clicar um mouse em uma votação virtual. Descentralização e bi-direcionalidade na comunicação é algo de que os caciques do movimento sindical não querem ouvir falar.
Em tempo de crise os líderes recorrem a velhos estratagemas, agourentos são responsabilizados pelo insucesso de um acordo, sabotadores são a causa das dificuldades de um sindicato que não prevalece, e assim por diante. O centro de gravidade que no caso são a maioria dos cerca de sessenta mil docentes das IFES não se moverá enquanto os aspirantes a líderes não respeitarem, escutarem e acatarem a base, e não o contrário.
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