quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Sindicato é clonado no Brasil

Sindicato é clonado no Brasil !

Luis Paulo Vieira Braga (UFRJ)

Em fato inédito no mundo, cientistas sindicais clonaram um sindicato. O procedimento ocorreu na sede nacional da CUT em São Paulo, no dia 6 de setembro último. A fim de garantir o sucesso da operação, somente cientistas sindicais credenciados pelo PROIFES tiveram acesso facilitado ao recinto, devendo os demais interessados se submeter ao rígido controle de visitantes da Central, que mais parecia um piquete (1). Para reforçar a lista de presença, 485 membros do PROIFES enviaram procurações (2) aos presentes, autorizando-os a agirem em seu nome. O que, sem sombra de dúvida, é a melhor forma de participar. Se der certo, fui eu ! Se der errado, não fui eu !

Apesar de sua complexidade, a clonagem foi feita rapidamente, o que impressionou os presentes, dentre eles, o Dr. Frankestein, o Dr. Jekyll e o Dr. Morte. A entidade levantou-se diante de todos e pronunciou quatro palavras que levaram a audiência ao delírio: propositivo, autônomo, ético e democrático(3). Ali estava a confirmação do sucesso da clonagem do sindicato nacional ANDES, cujas palavras de ordem são autônomo e democrático. A decisão de fundar um sindicato nacional contrariou alguns membros do PROIFES que insistiam na criação de sindicatos locais, conforme a tradição estabelecida no seio daquela agremiação. Estes elementos reacionários foram silenciados e enviados para trabalhos forçados, por um período sem volta, na Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais de Maceió (FAMA)(4).

Mas a criatividade da ciência sindical uniu técnicas de clonagem com aquelas de transgenia, obtendo uma entidade em muito superior à original, que tinha uma aversão enorme a dinheiro. O clone, por sua vez, é a favor do imposto sindical, e assim que tiver obtido o seu registro, passará a cobrá-lo dos docentes das ifes, queiram eles ou não abraçar a boa nova. O seu propositivismo vai ainda além de uns minguados porcentuais. A previdência complementar para o funcionário público precisa ser implementada, em muitos casos isto está sendo feito pelos sindicatos da categoria, que passam a manipular enormes fortunas ! Está aí o justo prêmio para todos estes abnegados cientistas sindicais que dedicaram tanto de suas vidas à mais incontestável de todas as éticas de finalidade: se dar bem !

(1).No edital de convocação para a assembléia de fundação do sindicato dos professores de ensino superior federal não consta nenhuma indicação de processo de credenciamento, muito menos de seu horário de funcionamento.

(2). É legal do ponto de vista jurídico, fazer-se representar por procuração em reuniões de condomínio, assembléias de acionistas, etc...Já o seu uso em eventos de caráter político levanta polêmicas desde a época do império, quando em 1842 desapareceu a figura do procurador para eleitor. No meio sindical a votação por procuração depende do estatuto de cada entidade. Neste caso como se tratava de um edital para criar uma nova entidade, deveria constar no edital que o voto por procuração seria permitido.

(3). As quatro palavras de ordem concluem o documento do PROIFES: Fundação do PROIFES-Sindicato: um marco histórico no movimento docente.

(4). A instituição foi a última colocada na lista divulgada pelo MEC, de acordo com um novo índice de avaliação para as instituições de ensino superior.

sábado, 13 de setembro de 2008

Sindicato é clonado no Brasil !

Sindicato é clonado no Brasil !

Luis Paulo Vieira Braga (UFRJ)


Em fato inédito no mundo, cientistas sindicais clonaram um sindicato. O procedimento ocorreu na sede nacional da CUT em São Paulo, no dia 6 de setembro último. A fim de garantir o sucesso da operação, somente cientistas sindicais credenciados pelo PROIFES tiveram acesso facilitado ao recinto, devendo os demais interessados se submeter ao rígido controle de visitantes da Central, que mais parecia um piquete1. Para reforçar a lista de presença, 485 membros do PROIFES enviaram procurações2 aos presentes, autorizando-os a agirem em seu nome. O que, sem sombra de dúvida, é a melhor forma de participar. Se der certo, fui eu ! Se der errado, não fui eu !
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quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Kramer versus Kramer

Kramer versus Kramer

Prof. Luis Paulo Vieira Braga(UFRJ)

No dia 6 de setembro, dia do cabelereiro e do barbeiro, os docentes reunidos no movimento PROIFES pretendem fazer a barba, cabelo e bigode do movimento sindical docente fundando um sindicato nacional para os professores do ensino superior público federal (universidades federais)2 conforme consta na deliberação 4.1 do tema 4 do IV Encontro Nacional do PROIFES, realizado de 30 de julho a 1 de agosto do corrente ano. A deliberação é recente em relação ao objetivo até então manifestado de se criar uma federação de sindicatos em oposição ao ANDES que pretende ser um sindicato nacional de direito, e o é, de fato.

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sábado, 23 de agosto de 2008

Transplantes de Órgãos: o que todos deveriam saber e não sabem

Foram colocados no BLOG os artigos :

Transplantes de Órgãos: o que todos deveriam saber e não sabem
Alexandre Cardoso(HUCFF)

e

A vida jogada no lixo
José Almino Guel Arraes

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terça-feira, 19 de agosto de 2008

Novos textos

Foram colocados no BLOG os artigos :
Debatendo Naomar
Em 2007, os editores do Observatório da Universidade participaram ativamente do debate sobre o PDE, o REUNI e a Universidade Nova. Pode-se dizer que o primeiro round desta polêmica foi vencido pelo MEC, na medida que os Conselhos Universitários da maioria das IFES aprovaram aumento de vagas e criação de cursos novos. Entretanto, a reforma estrutural curricular nos moldes dos "colleges" americanos e da reforma de Bologna, em andamento na Europa, ainda está por se fazer. Ao reproduzirmos o artigo de um dos principais ideólogos da Universidade Nova, o prof. Naomar de Almeida Filho, não estamos endossando suas opiniões, mas promovendo a continuação do debate em vista das próximas etapas de implantação da reforma do ensino superior no Brasil.

A GRADUAÇÃO NAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS
Clóvis Pereira da Silva
A atenção insuficiente dos órgãos governamentais ao Sistema Nacional de Graduação -SNG faz parte de um problema muito mais complexo, que é a ausência de políticas públicas duradouras e conseqüentes voltadas para a educação como um todo, aliada a uma gestão precária. Este não é um problema novo, mas que agora, atingiu um ponto crítico na escala de tolerância da parte esclarecida da população brasileira.

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segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Estacionamentos, furtos de automóveis e urbanização da UFRJ

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Estacionamentos, furtos de automóveis e urbanização da UFRJ
Abraham Zakon,
Professor Associado, Departamento de Processos Inorgânicos, Escola de Química, UFRJ

O esvaziamento econômico e político do antigo Distrito Federal (ou Capital da República) acentuou-se depois que este foi convertido em Estado da Guanabara. E sem que fossem produzidos estudos adequados de urbanização e desenvolvimento industrial, educacional e político, foi rebaixado para a condição de Município de um Estado que não tinha seu padrão atrativo de vida. O resultado foi uma favelização crescente e o crescimento desordenado de residências, da população e da criminalidade, que, também, sofreu a influência dos movimentos de liberação econômica, e resultou na transferência ou falência de indústrias e criação de uma enorme massa de desempregados e indigentes.
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terça-feira, 5 de agosto de 2008

Cientistas, Religiões e Fanatismo

Cientistas, Religiões, Ateísmo e Fanatismo

Abraham Zakon, Professor Associado, Departamento de Processos Inorgânicos
Escola de Química, UFRJ

O longo artigo “Entre deus e o orientador ateu” do Prof. Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues, publicado em 15 de julho p.p. no OBSUNI apresentou, à primeira leitura, uma linha de raciocínio que envolve o leitor. Diante de alguns aspectos questionáveis, são reapresentados alguns comentários iniciais com alguns acréscimos e nova diagramação.

Ninguém precisa ser ateu ou religioso para ser cientista. Não há incompatibilidade entre religião e ciência se o cientista souber diferenciar as coisas e evitar qualquer fanatismo. A convivência ou a complementação ciência-religião é possível, e, freqüentemente, indispensável, pois a vida espiritual existe de várias formas no íntimo ou ao redor das pessoas.

Leia o artigo no novo link do observatório:

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segunda-feira, 21 de julho de 2008

Bacharelado à Bolonhesa

No dia 3 de Julho de 2008 o Conselho Universitário da UFRJ aprovou a criação do primeiro bacharelado interdisciplinar da universidade. Um ano depois do Decreto presidencial 6096, de 24 de Abril de 2007, que instituiu o REUNI a UFRJ começa a implementar, segundo o entendimento da maioria dos seus dirigentes, a expansão e a reestruturação do ensino superior . A deliberação, entretanto, não foi unânime, o parecer que se segue foi elaborado pelos professores titulares Luiz Antonio Cunha (CFCH) e Rui Cerqueira (CCS) e apresenta várias restrições à consistência do projeto e à sua implementação. Ao divulgar nacionalmente a matéria o Observatório da Universidade espera contribuir para o debate em torno do REUNI, alertando sobre suas graves conseqüências para a educação brasileira.
Leia o parecer em:
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terça-feira, 15 de julho de 2008

Foi colocado no BLOG o artigo :
Entre deus e o orientador ateu

de Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues

... Um aluno de pós-graduação apresentou-me a versão final da sua dissertação, onde expressou os agradecimentos habituais, entre os quais havia umas linhas dedicadas a mim e outras a deus (ele não especificou qual deles, exatamente). Disse-lhe então que eu gostaria que ao final da nossa convivência acadêmica ele tivesse percebido que o espaço daquela dissertação era pequeno demais para nós dois: eu e deus.
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quinta-feira, 10 de julho de 2008

Entre o falastrão e o bizantino, os dilemas da adesão docente ao movimento sindical


Entre o falastrão e o bizantino, os dilemas da adesão docente ao movimento sindical
Luis Paulo V. Braga

De um lado a pilha de contas, do outro um contra-cheque, ilusoriamente generoso, pois ali estão acumulados três meses de GTMS atrasados. Para o futuro, o receio de que a inflação rebaixe os ganhos de longo prazo (três anos), celebrados no acordo feito, em nome da categoria dos professores das instituições de ensino superior federais, por uma das entidades que pretendem representá-la. Ao final do ano passado o PROIFES anunciava triunfalmente que nunca na história do movimento teria sido celebrado um acordo tão bom como aquele patrocinado pela CUT e por alguns deputados da base governista. No entanto, após meses de sucessivos adiamentos e alterações, quando, finalmente, o acordo começa a ser cumprido, a sensação é de que ele não é tão bom assim, e a comemoração cede lugar a um misto de inquietação e decepção. No extremo oposto do espectro sindical o ANDES, que desembarcou ou foi desembarcado das negociações por não assinar o acordo, na impossibilidade de apresentar ganhos imediatos aos seus associados propõe ações de longo prazo, dentre elas o fortalecimento do CONLUTAS, como forma de impor ao governo e ao capital suas reivindicações.

Se há pelo menos duas opções de engajamento, ambas vem demonstrando fraqueza e resultados insuficientes. O PROIFES fundado em 2004, sob o estigma da chapa branca, congrega até hoje apenas cinco associações docentes. Por outro lado o ANDES vê declinar desde então a participação nas eleições nacionais, entre 19.000 e 21.000 votantes de 1996 a 2002, para 11.000 a 13.000 votantes de 2004 a 2008.

No campo jurídico o cenário não é melhor, a Associação Docente da Universidade Federal de São Carlos, berço do PROIFES não conseguiu se transformar em sindicato. Por outro lado o ANDES encontra-se num imbroglio jurídico para recuperar seu registro sindical perdido em função da sua atuação no setor privado que pela lei atual é de competência de outro sindicato o SINPRO. A situação se agravou a tal ponto que no último CONAD decidiu-se realizar um Congresso Extraordinário para discutir a oportunidade ou não de se continuar a atuar naquele setor (privado).

Embora ambas as entidades exprimam em seus estatutos a independência em relação aos partidos políticos na prática eles influenciam os rumos da ação sindical. Não é segredo para ninguém a importância do PT e do PC do B no PROIFES, e do PSOL e do PSTU no ANDES. Historicamente tem sido assim na maioria dos sindicatos latino-americanos. Exigir ao associado que se licencie do partido enquanto estiver no sindicato seria um freio a esta intervenção. Na vida nacional vimos, recentemente, a absurda acumulação de cargos de um ministro e presidente de partido.

Os processos decisórios em entidades de caráter democrático são mais lentos do que em órgãos meramente operacionais. Fica pior ainda quando se combina centralização com democracia. Os Congressos do ANDES e acredito também os do PROIFES, se por um lado, têm uma ampla e interessante pauta de discussão, por outro, engessam a atuação de seus membros pelo resto do ano. Há decisões absurdas tomadas em Congressos Nacionais do ANDES como, por exemplo, a rejeição a todas as formas de ensino a distancia que, ao invés de trazer a discussão para dentro do sindicato, exclui e aliena suas lideranças de um processo que está se dando de forma abrangente em todo o país. Mesmo nas seções sindicais o centralismo vai totalmente contra a dinâmica que os fatos estão a exigir. A comunicação ainda é prioritariamente unidirecional, concedendo-se à maioria dos associados o mero direito de levantar a mão em uma assembléia presencial, ou clicar um mouse em uma votação virtual. Descentralização e bi-direcionalidade na comunicação é algo de que os caciques do movimento sindical não querem ouvir falar.

Em tempo de crise os líderes recorrem a velhos estratagemas, agourentos são responsabilizados pelo insucesso de um acordo, sabotadores são a causa das dificuldades de um sindicato que não prevalece, e assim por diante. O centro de gravidade que no caso são a maioria dos cerca de sessenta mil docentes das IFES não se moverá enquanto os aspirantes a líderes não respeitarem, escutarem e acatarem a base, e não o contrário.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Foi postado no novo site do blog Observatório da Universidade o artigo

A DESCONSTRUÇÃO TURBOCAPITALISTA NA UNIVERSIDADE DO BRASIL-UFRJ

Abraham Zakon, José Henrique Erthal Sanglard, Leandro Nogueira

Turbinada por sedutoras ofertas de verbas em troca de melhores estatísticas que incluem “mais jovens matriculados nos cursos superiores”, uma reforma universitária está em andamento. Se a UFRJ quiser pagar suas contas de água e luz, tapar os rombos nos telhados de suas bibliotecas e laboratórios, deverá colaborar compulsoriamente na criação de factóides e números midiáticos, sem consonância com a realidade do ensino médio e sem conexão ou compromisso com a garantia da qualidade dos diplomas de ensino superior.

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terça-feira, 10 de junho de 2008

Publicar mais, ou melhor ? O tamanduá olímpico.

Foi colocado no novo site do blog Observatório da Universidade o texto:
Publicar mais, ou melhor ? O tamanduá olímpico. (1)
Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues (2)
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Fosse a ciência produzida no Brasil um tamanduá-bandeira, sabemos que o nosso curioso e típico mamífero quadrúpede não sobreviveria se o repartíssemos em segmentos alguns mais, outros menos importantes: os primeiros recebendo mais recursos, sangue, açúcar, oxigênio, sais minerais e vitaminas, enquanto os demais seriam tratados à míngua, abaixo do conhecido limiar de sobrevivência de São Mateus: “àqueles que tudo têm, mais lhes será dado; aqueles que nada têm, o pouco que lhes resta lhes será tomado”.
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(1) Artigo originariamente publicado na Revista Brasileira de Ciências do Esporte 29 (1): 35-48, 2007.
(2) Professor Titular da Universidade Federal de Minas Gerais. Coordenador de Pós-Graduação em Educação Física. Pesquisador (Nível II) do CNPq e médico.


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domingo, 1 de junho de 2008

O cuidado na escolha dos gestores universitários

Foi colocado no novo blog Observatório da Universidade o texto:

A UNIVERSIDADE NO BRASIL: ESSENCIALIDADE.
O CUIDADO NA ESCOLHA DOS GESTORES UNIVERSITÁRIOS


Clóvis Pereira da Silva

No Brasil, construir e manter universidades públicas com autonomia de decisão sobre seus destinos significa investir recursos orçamentários públicos de modo inteligente em seus recursos humanos, em educação, ciência e tecnologia que são elementos capazes de apoiar com sucesso os planos estratégicos de desenvolvimento inovador industrial, e assim garantir boa qualidade de vida ao povo brasileiro. A sociedade brasileira não tem percebido este fato.
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Leia a continuação no novo site do blog :

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Gemas !


GEMAS !
Luis Paulo Vieira Braga (UFRJ)

Diante da profusão de novas siglas que passarão a povoar o contracheque dos docentes das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) uma delas chama a atenção - GEMAS. O professor otimista a interpretará como augúrio de valores de pedras preciosas adicionados aos seus rendimentos, já o pessimista terá a percepção de que muito sacrifício será necessário para obtê-la. De um ponto de vista mais objetivo, a gratificação específica do magistério superior (GEMAS) criada pela Medida Provisória 431 de 14 de Maio de 2008 não pode deixar de suscitar suspeitas de que seja a reinvenção da GED da gestão Paulo Renato - Fernando Henrique. Se tiver o seu mesmo vício de origem, ao confundir avaliação com gratificação, será muito mal vinda pela maioria dos docentes. O pressuposto de que o funcionário só desempenha com afinco suas funções se receber algo a mais, traz embutidos dois dilemas: a) os salários jamais podem ser aumentados ao nível correto e b) aqueles que trabalham pouco continuarão assim, pois ainda receberão muito pelo que fazem.

O uso de gratificações no setor público tem sido confundido com o seu uso em segmentos específicos do setor privado, que é de outra natureza, baseado no lucro das atividades. As gratificações corretas no setor público são, a princípio, devidas a insalubridade, tempo de serviço, titulação, entre outras. Outra forma de aumento de rendimentos nos vencimentos específicos dos docentes são as bolsas de produtividade, que apesar de, supostamente, remunerarem uma atividade extra, acabam por monopolizar os seus beneficiários em atividades de pesquisa e pós-graduação. Somente mais recentemente têm aparecido bolsas de graduação e extensão incentivando atividades voltadas para os curso de graduação. E, finalmente, há os polêmicos projetos de prestação de serviços através das, não menos polêmicas, fundações de apoio que tantos problemas têm trazido às universidades em todo o país. O dilema das receitas oriundas da prestação de serviços é que a partir da sua institucionalização, os orçamentos das IFES jamais serão satisfatórios exatamente porque há a captação extra-orçamentária e além disso, os projetos cada vez menos serão de natureza pública, como é o caso da Microsoft na UFPE e da L´Oreal na UFRJ. Ou seja, tunga-se duplamente a instituição pública e aqueles a quem ela se destina.

As contínuas reformulações dos contracheques do serviço público em geral, e dos docentes em particular, reduzem-se a variações sobre o mesmo tema. Salários defasados são compensados com gratificações que não substituem, por muito tempo, nem a necessária avaliação qualitativa, nem a erosão dos salários. Recorrentemente as IFES se vêem com um corpo docente insatisfeito e mal avaliado. Sem querer extrapolar para outro tema, mas inevitável, cai-se na recorrência das pseudo reformas que pretensamente buscam potencializar a raquítica universidade pública brasileira, fruto, dentre outras causas, da desmotivação e desmoralização de seus professores.

Mais uma vez perdeu-se a oportunidade de se implementar uma política salarial que resgatasse o peso do vencimento básico, com a progressiva eliminação de gratificações espúrias. Mais uma vez, ao custo de inúmeras reuniões, produziu-se uma solução de meia sola que talvez não resista ao curtíssimo horizonte de sua implantação que é de três anos. A insustentabilidade das propostas se revelou no repúdio que colheu até mesmo do leniente parlamento brasileiro em vistas do conflito evidente com as normas do Supremo Tribunal Federal. Cai a MP 430 que provia os recursos para a MP 431 antes mesmo de ser votada. Volta a bola para o campo do governo que deverá agora formular um projeto de lei e encaminhá-lo para votação até o final de maio. Enquanto isso, gemam !

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Neopeleguismo Sindical e Movimento Docente nas IFES


Neopeleguismo Sindical e Movimento Docente nas IFES*

Leandro Nogueira (EEFD-UFRJ)
Luis Paulo Vieira Braga (IM-UFRJ)

O cenário é indiscutível e o veredicto é consensual, tanto para as bases do pensamento à direita, como da esquerda democráticas: a CUT e a Força Sindical, em missão conjunta para integrarem política e financeiramente o aparato estatal, inovaram o peleguismo arbitrado pela Era Vargas, protagonizando o mais explícito neopeleguismo. E o fizeram como "nunca antes na história desse país", segundo os sociólogos Ricardo Antunes, professor da Unicamp, e Demétrio Magnoli, colunista de O Globo.

No começo, o argumento era o da luta pela legalização das centrais sindicais. Mas com a sanção pela Câmara Federal, em março último, do Projeto de Lei 1.990/07, a lacuna da legalidade, que diga-se de passagem, jamais impediu a existência da CUT ou da Força como entidades gerais de representação dos trabalhadores, foi preenchida com um belo pacote, contendo a conversão do imposto sindical para o status de contribuição negocial, e a confirmação da unicidade sindical.

Em uma única e sorrateira tacada, essa "modernização" dos fundamentos da legislação sindical varguista, consagrou uma casta de sindicalistas completamente apartada dos trabalhadores, na mesma medida em que foi suprimido o direito à liberdade sindical, consagrado pelo Art. 23 da Declaração Universal dos Direitos Humanos e ratificado pela Convenção 87 da OIT.

Com a "contribuição negocial" a CUT e a Força passam a não mais necessitar da cotização dos trabalhadores associados, adverte o Prof. Antunes, já que serão patrocinadas pela legislação lulista, com 10% do valor das contribuições sindicais.
Por baixo, o presente lulista permitirá que os neopelegos abocanhem anualmente mais de R$ 100 milhões, lembra o colunista Magnoli, e sem qualquer prestação ao Tribunal de Contas da União, de acordo com a Lei 11.648, editada na sequência da sanção presidencial ao PL 1.990/07.

Além desse privilégio a fundo perdido, a CUT e a Força preservaram também a "reserva de mercado" por meio da unicidade sindical, princípio que obriga todos os trabalhadores a pagarem tributos para o sindicato local e único por base territorial. Os dirigentes da CUT e da Força alegam que ambas as centrais têm compromisso com o fim do imposto sindical, e que a criação da contribuição negocial coletiva, a ser aprovada em assembléia, beneficiará os sindicatos sérios e representativos, combatendo-se assim, os chamados sindicatos-fantasma.

Noves fora o fato de que o fim do imposto sindical ainda não foi decretado, nem a CUT ou a Força debatem o fim da unicidade sindical, ou informam que a nova contribuição pode superar o confisco anual limitado a 3,3% de um salário mensal, com a perspectiva de até ultrapassar 13% desses mesmos vencimentos.
Na prática, enquanto se perpetra a eliminação dos sindicatos-fantasmas, o novo instrumento de contribuição compulsória e garantido pelo Estado, visa asssegurar em bases ainda mais vantajosas a reserva de mercado sindical.

Este neopeleguismo é especialmente favorável ao governo Lula, que assim pode controlar melhor os movimentos reivindicatórios dos trabalhadores e aposentados, conduzindo-nos a passos largos. para a sociedade dos empregos de baixa qualidade e das aposentadorias mínimas, com uma rede pública de proteção social cada vez mais deficiente, não obstante sejam propagadas as maravilhas do "crescimento sustentado" da economia.

O quadro é especialmente deletério para a afirmação das políticas públicas que visam a promoção dos direitos de cidadania como educação e saúde, com os trabalhadores desses setores sofrendo com a agudização das perdas salariais e das condições de trabalho necessárias para a oferta do atendimento de qualidade à população.

Por outro lado, se os trabalhadores do país vão servindo como massa de manobra para a CUT e a Força, muitos professores nas IFES incorrem em grave equívoco, ao acreditarem que a questão do neopeleguismo sindical nem de longe lhes diz respeito.

Sem embargo, ironicamente, os neopelegos estão fazendo escola entre nós, a partir da ligação íntima que se verifica entre a CUT e a entidade conhecida como PROIFES, surgida há alguns anos, supostamente como alternativa de luta pela valorização da universidade pública.

Em verdade, a gênese do PROIFES remonta a um período recente na história do movimento docente das IFES, quando dissidências de colegas petistas e demais apoiadores do lulismo, passaram a marcar presença em assembléias docentes, na UFRJ inclusive, pela defesa obstinada das propostas governistas, ainda que elas fossem deletérias para as universidades públicas federais, ou mesmo implicassem na retirada de direitos e na desvalorização dos professores universitários.

No princípio, essa militância geradora do PROIFES visou desqualificar e obstruir as greves dos professores das IFES em 2003, apesar da notória recusa governista em negociar reajustes que gradualmente reparassem as nossas perdas salariais. Em seguida. passaram a defender resolutamente a Reforma da Previdência, sancionada pelo governo federal naquele mesmo ano, através da famigerada PEC-40, que extinguiu a aposentadoria integral dos novos servidores públicos, instituiu o confisco compulsório dos inativos, e ainda impôs novas perdas para os trabalhadores da iniciativa privada, numa autêntica negociata, como bem definiu à época, a filósofa Marilena Chauí, da USP.

Mas a pré-história do PROIFES, justiça seja feita, ainda registra o apoio incondicional de seus militantes à Contra-Reforma Universitária de Lula da Silva, cuja primeira fase pariu o PROUNI, o esquema de utilização de verbas públicas e renúncia fiscal, para o preenchimento de "vagas ociosas" em instituições privadas do ensino superior, apesar do inaceitável nível de subfinanciamento das IFES.

Diante da prestação de serviços tão relevantes, essa militância foi então reconhecida pelo governo em 2004, com a criação do PROIFES, após decisão tirada de uma reunião ocorrida nas salas do MEC, que segundo o filósofo Roberto Romano, da Unicamp, teria sido chancelada pelo Sr. Jairo Jorge, então Secretário Executivo do ministério.

Desde então, como organismo paralelo (e governista) de representação docente nas IFES, o PROIFES tem insistido na desqualificação do movimento docente vinculado ao ANDES-SN, mesmo após a greve de 2005, que resultou entre outros efeitos, na obtenção do nosso último reajuste salarial, na criação da classe de associado, além dos aumentos de 50% no incentivo de titulação para a carreira de ensino superior, e de 90 para 115 pontos na GED para os aposentados.

Além disso, o PROIFES tem apoiado em todo o país a implantação do REUNI, o decreto que estabelece a aprovação automática nas IFES, num simulacro de ensino superior que visa graduar sem formar, enquanto precariza, intensifica e desvaloriza o trabalho docente, com (sub) financiamento não garantido, e ainda por cima mediado pela chantagem orçamentária do governo.

Apesar desta lamentável trajetória, os dirigentes do PROIFES ainda se auto-proclamaram negociadores vitoriosos por um acordo de reajuste salarial, cujas tratativas foram encerradas pelos representantes do próprio governo, em 10/12/2007, após estes divulgarem proposta que não contemplava as reivindicações aprovadas pela base majoritária do movimento docente nas IFES.

E, em 22/04 último, como os reajustes constantes nas tabelas impostas pelo governo, e previstos para vigorarem a partir de 01/03/2008, ainda não haviam dado o ar da graça em nossos surrados contracheques, o doutor-presidente do PROIFES, resolveu "cobrar" do governo, mais precisamente dos secretários do MPOG e do MEC, através de carta com cópia aos parlamentares do Congresso Nacional, que a tal "negociação vitoriosa" fosse implementada com urgência, por meio de Medida Provisória. Segundo ele, estaria "se instalando no professorado um clima de crescente perplexidade e, inclusive, de descrença em relação ao pronto cumprimento daquilo que foi pactuado".

E, em pleno mês de maio, logo após o Dia das Mães, as egrégias autoridades do governo, quiçá sensibilizadas por tal apelo, resolveram incluir os docentes das IFES e do Ensino Básico Federal, em nada menos que duas MPs, nº 430 e 431, publicadas no DOU, edição extra do dia 14/05, concedendo reajustes salariais, também para os demais servidores do Executivo Federal, da Polícia Federal, do Desenvolvimento Agrário, da Previdência, da Saúde e do Trabalho, da fiscalização do Ministério da Agricultura, da Polícia Rodoviária Federal, do Denasus e das Forças Armadas.

Mas sobre o que foi pactuado e exaltado como "grande vitória" pelos negociadores do PROIFES, é bom lembrar, por exemplo, que com o tal "acordo", os vencimentos de um "privilegiado" Professor Doutor 40H, Adjunto I, hoje no valor de R$ 3581,08, passarão inicialmente para R$ 4300,00. No sexto ano da Era Lula, trata-se de um valor ainda muito aquém dos vencimentos de R$ 5084,00, percebidos já em 2007, por um Policial Rodoviário Federal em início de carreira, de quem é exigida apenas a formação de ensino médio, para o cumprimento de uma carga de 40 horas semanais de trabalho, em regime de escala de revezamento.

Não obstante a necessidade da justa remuneração do Policial Rodoviário Federal, é mister que não seja ignorada a evidente e inaceitável desvalorização dos professores nas IFES. Além disso, não será em comunhão com o neopeleguismo, que conseguiremos reverter essa situação que o PROIFES considera "vitoriosa".

A bem da História, não dá nem para chamar de "vitória de Pirro", o tal "acordo" do PROIFES. O rei do Épiro, como se sabe, jamais se deixou iludir, mesmo após o épico triunfo em uma batalha contra os romanos.

O PROIFES, ao contrário, mesmo desprestigiado , mostra-se muito satisfeito com o tal "acordo", em verdade, uma clara imposição governista. Seus membros consideram-se hábeis negociadores, quando distantes disso, são apenas subservientes às decisões tomadas pelos gabinetes ministeriais, que como se sabe, invariavelmente postergam a substantiva recuperação de nossas perdas salariais.

* Contribuiram na revisão do texto os professores: Cláudio Bornstein (COPPE-UFRJ), José Henrique Erthal Sanglard (POLI-UFRJ) e Abraham Zakon(Escola de Química - UFRJ).

quinta-feira, 1 de maio de 2008

LICENCIATURAS EM TRÊS ANOS: UMA EXCRESCÊNCIA

LICENCIATURAS EM TRÊS ANOS: UMA EXCRESCÊNCIA(*)

Clóvis Pereira da Silva[i]

O Governo Federal continua com o firme propósito de transformar em sucata o Sistema Nacional de Graduação - SNG. Seus atos neste sentido são divulgados diariamente pela imprensa, e se referem a sucateamento das universidades federais via redução de verbas para a manutenção das mesmas, via pagamento de salários aviltados aos docentes e aos técnicos – administrativos dessas instituições, via autorização desordenada para criação de novos cursos de graduação por parte de Instituições de Ensino Superior privadas. Para evitar o caos no SNG é necessário que a parte esclarecida da sociedade reaja de forma veemente. O futuro de nossa nação será moldado por nossas reações.

Nosso particular interesse está voltado para a oferta por Instituições de Ensino Superior - IES privadas dos cursos de licenciaturas em Matemática em três anos, excrescência que foi aprovada em 2002 pelo Conselho Nacional de Educação – CNE (cf. Resolução CNE/CP n° 2, de 19 de fevereiro de 2002).

A parte esclarecida da sociedade precisa fazer a si mesma a seguinte pergunta: como ficará o Brasil no competitivo contexto mundial com a oferta de cursos de licenciaturas em três anos e de má qualidade? Lembramos que estes são cursos formadores de professores do ensino básico (professores de matemática, física, química, história, geografia, língua portuguesa, etc.).

Será esta uma estratégia idealizada pelo Banco Mundial para assegurar nossa inserção no mundo capitalista globalizado como nação periférica, exportadora de recursos naturais, de produtos agrícolas e de mão – de - obra barata, e dependente ad infinitum da importação de ciência e tecnologia de ponta? Este atual estado de coisas interessa a quem? Certamente que não interessa à nação brasileira.

Segundo informações contidas no Informativo nº 136 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira-INEP, órgão do MEC, de 24/5/2006, o país tinha 2.381 IES. Desse total as IES privadas correspondiam a 89,83%. As 10,17% restantes eram IES públicas. Este é um número assustador tendo em vista a má qualidade dos cursos de licenciaturas, em particular, licenciaturas em Matemática, ofertados pela grande maioria dessas instituições privadas. Chamamos a atenção do leitor para observar a quantidade de jovens brasileiros que estão tendo uma formação de graduação de baixa qualidade. Este é um problema gravíssimo.

A educação do brasileiro não pode ser tratada como um grande e lucrativo negócio que desperta o interesse de grupos privados nacionais e estrangeiros. Sabemos que a venda de serviços da educação superior afasta a universidade do estudo do rigor teórico, da vigilância epistemológica e das soluções dos problemas nacionais.

A excelência da educação escolar da nação com conseqüente formação de seus líderes é um dos itens da soberania nacional[ii]. Um bom e inteligente sistema educacional deve ser uma prioridade para a nação. A qualidade de vida dos brasileiros no presente e no futuro, sua inserção no mundo capitalista globalizado serão determinados pela qualidade da educação escolar do país. A sociedade brasileira deve repassar esses princípios às autoridades responsáveis pelas coisas da educação.

O Brasil não pode esperar outros quinhentos anos para ser criado um Sistema Nacional de Ensino de boa qualidade. O momento é agora. A respeito da boa qualidade da educação nacional vejamos o que nos informa (BARROS, 1986, p. 207)[iii].

A educação como observa Tito Lívio de Castro, é, por excelência, o fator mesológico mutável, entre outros fatores imutáveis: dela, por conseguinte, é que temos de esperar tudo. É a alta cultura, especialmente de índole científica, que produz a prosperidade material, que pode enriquecer o país, torná-lo saudável e feliz. Para que a tenhamos, é preciso difundir as “luzes” por todas as classes sociais, espalhar o ensino primário, estabelecer o ensino secundário, criar o ensino técnico, especialmente o profissional e o agrícola. Mas, antes e acima de tudo, é preciso reformar o ensino superior, torná-lo sólido e eficaz, porque sem ele será vã qualquer outra tarefa. Sem uma elite intelectual bem preparada, como esperar a ilustração do povo? (...) Assim, se se quer um povo ilustrado, é preciso, primeiro, que se constitua uma elite verdadeiramente ilustre: que, democraticamente, do seio do próprio povo, saiam os seus guias, mas que essa posição de liderança seja conferida pelo saber e pela ciência. Ora, é exatamente o ensino superior que terá de formar esses guias, esses “ilustrados” a quem cabe acelerar a marcha histórica do país, a quem compete conduzi-lo à meta que a ciência e a indústria apontam como a era feliz da humanidade...

O atual SNG está estruturado para não garantir um avanço significativo da educação escolar brasileira; não está estruturado para fazer a inclusão social dos excluídos. Seu modelo tende a aprofundar o fosso social existente atualmente entre a minoria incluída e a maioria excluída da sociedade do conhecimento. O incentivo à massificação da oferta de cursos de graduação (aí incluídos os cursos de licenciaturas) de má qualidade é uma insensatez. É um produto de gestores incompetentes.

A nação brasileira precisa decidir se quer para si um modelo de universidade que seja capaz de inserir o Brasil na intensa competição internacional do mundo atual. Desejamos a universidade brasileira como sendo uma instituição moderna que possa contribuir para nos retirar da triste e vergonhosa condição de país exportador de cérebros, de matéria prima, e país dependente da ciência e da tecnologia desenvolvidas por outros países.

Sabemos que o futuro de nossa nação está intimamente ligado à qualidade da formação de suas elites intelectuais.

Assim que a Resolução CNE/CP n° 2, de 19 de fevereiro de 2002, foi publicada a imprensa nacional divulgou notícias de que os proprietários das IES privadas afirmavam que a inadimplência dos alunos em suas instituições ocorria a partir do segundo ano do curso.

Logo, inferimos que reduzir as licenciaturas para três anos funcionaria como a solução perfeita para reduzir a inadimplência de alunos clientes, assim como para atrair novos alunos. E quanto à qualidade dos cursos de licenciaturas a serem integralizados em três anos? Por que o CNE e o Ministro da Educação não acataram as informações de alerta, e os protestos contra as licenciaturas em três anos apresentados pela sociedade organizada, via sociedades científicas? Os gestores da educação brasileira foram alertados sobre os danos irreversíveis que causariam à formação de professores a aprovação da referida Resolução. Qual o propósito dos membros do CNE quando aprovaram a Resolução acima citada?

A partir do segundo semestre de 2002 várias IES privadas sediadas em diversas cidades brasileiras passaram a ofertar cursos de licenciaturas, inclusive em Matemática, em três anos letivos e funcionando apenas no período noturno. Principal objetivo dos proprietários dessas IES privadas: atrair a maior quantidade possível de alunos com a oferta de cursos de formação de professores em três anos. Sabemos que o processo “seletivo” para ingresso de alunos nas IES privadas é uma grande farsa. A imprensa nacional já divulgou, por exemplo, o caso de um analfabeto que havia sido aprovado em “processo de seleção” para um curso de Direito de uma determinada IES privada.

Para serem ofertados novos cursos de licenciaturas em Matemática em três anos, as grades curriculares desses mesmos cursos que eram ofertados em quatro anos tiveram que ser reduzidas. Várias disciplinas pertencentes a grandes áreas do conhecimento como: Álgebra, Geometria, Análise Matemática, Estatística, Física, História e Fundamentos da Matemática, Formação Pedagógica, contendo conceitos básicos da Matemática, e indispensáveis à boa formação do licenciado em Matemática foram suprimidas, criando-se assim verdadeiras grades monstros curriculares que passaram a graduar néscios numéricos, os novos licenciados em Matemática, que serão os professores das novas gerações de brasileiros analfabetos numéricos. Lembremo-nos do desempenho dos estudantes brasileiros nas diversas versões do Programa Internacional de Avaliação de Alunos – PISA, que aborda as áreas: Ciência, Leitura, Matemática.

Os cursos de licenciatura em Matemática de três anos são ofertados pelas IES privadas no período noturno. Em geral, os alunos de cursos noturnos precisam trabalhar durante o dia, inclusive aos sábados, para pagar a mensalidade do curso e para se manterem. Apresenta-se aqui um dos problemas do sistema. O aluno não tem tempo para estudar corretamente, nem para realizar as poucas e reduzidas tarefas escolares exigidas pelos professores do curso. A trapaça nos exames das disciplinas desses cursos chega a ser considerada um direito do aluno. Como aprender Matemática sem ter tempo para se dedicar aos estudos necessários, sem ter tempo para freqüentar bibliotecas (supondo que as IES privadas possuam boas e atualizadas bibliotecas, o que não é verdade). Sem ter bons, qualificados e experientes professores (nestas instituições os professores ganham por aula dada) para orientar os alunos, e sem o apoio de um consolidado ambiente científico que as IES privadas não têm? No processo ensino e aprendizagem não há mágica.

O processo de formação ou desinformação por meio desses cursos de licenciaturas em Matemática em três anos tem como características: a pobreza de informações teóricas essenciais à boa formação do professor de ensino básico, a precariedade nas manipulações matemáticas, e a precariedade no uso da informática como ferramenta auxiliar.

O responsável pela elaboração da grade curricular de um curso de licenciatura em Matemática a ser integralizado em três anos à noite passará a dispor de cinco noites por semana (de segunda-feira à sexta-feira), cada noite com três horas e trinta minutos de atividades escolares, para integralizar a carga horária de 2.800 horas, conforme determina o Art. 1° da Resolução CNE/CP n° 2, de 19 de fevereiro de 2002. Esta pessoa passará a utilizar os sábados para que algumas disciplinas tenham aulas regulares e desse modo cumprir a lei.

Isto funcionará apenas no papel, pois a grande maioria dos alunos das IES privadas trabalha também aos sábados, e assim sendo tais alunos não poderão assistir aulas aos sábados. Relembramos que por força da Lei nº 9.394/96, (a LDB) a freqüência é obrigatória a, pelo menos, 75% das aulas de cada disciplina do curso.

Há outro grave problema originado pelo sistema atual. Como as IES privadas procuram matricular o maior número possível de alunos clientes, eles são matriculados, por exemplo, em um curso de licenciatura em Matemática sem possuírem conhecimentos básicos necessários a alguém que aspira ser professor de Matemática.

Em resumo. Os cursos de licenciaturas em Matemática que eram ofertados em quatro anos por IES privadas já eram de má qualidade, devido a uma série de fatores que são do conhecimento das autoridades competentes, e a partir de 2002 esses mesmos cursos de má qualidade passaram a ser ofertados em três anos de duração. Teremos como resultado desse imbróglio a má qualidade elevada a n-ésima potência, , com n sendo um número inteiro positivo maior que 1.

O licenciado em Matemática deve ser um profissional que, dentre outras coisas tenha o perfil seguinte: saiba dominar conhecimentos matemáticos não triviais; tenha consciência do modo de produção próprio da Matemática (origens, processo de criação, inserção cultural); tenha conhecimento das aplicações da Matemática em várias áreas do conhecimento; seja capaz de perceber o quanto o conhecimento de certos conteúdos e o desenvolvimento de certas habilidades e competências próprias ao fazer matemático são relevantes para o exercício pleno da cidadania; seja capaz de observar seus alunos, ensiná-los a pensar, e buscar alternativas de ação que propiciem o desenvolvimento de autonomia e pensamento desses alunos.

Com a oferta de cursos de licenciatura em Matemática em três anos será impossível graduar profissionais com tal perfil, além de habilidades e competências que são determinadas pelo colegiado do curso.

Com isso poderemos inferir que o Governo Federal conseguiu criar o seguinte quadro sombrio. Os futuros professores de matemática graduados por IES privadas aprenderão quase nada, e por sua vez, menos que quase nada passarão para seus futuros alunos. Chegará o momento em que este quase nada tenderá para zero. Ainda bem que a USP e outras universidades públicas ofertam bons cursos de licenciatura em Matemática que são integralizados em quatro anos e em cinco anos, dependendo do período.

E La nave va.

NOTAS

[i] Doutor pela USP; Docente aposentado pelo Departamento de Matemática da UFPR; Vice-Presidente da SBHMat; Consultor da CAPES; Membro da Atual Diretoria da APUFPR. E-mail: clovips2@uol.com.br

[ii]Os responsáveis pelas coisas da educação dos países desenvolvidos sabem o que isto significa para seus países.

[iii] BARROS, Roque Spencer Maciel de. A Ilustração Brasileira e a Idéia de Universidade. São Paulo: Editora Convívio/ EdUSP, 1986.
(*) O artigo foi encaminhado pelo autor e aprovado pela equipe do blog para publicação.

terça-feira, 29 de abril de 2008

O Observatório responde ao presidente do PROIFES


Caros colegas,
Como Presidente do PROIFES, peço-lhes o obséquio de publicar os esclarecimentos que a seguir faço, de modo a que os leitores desse blog possam ser devidamente informados sobre as negociações da recente campanha salarial dos docentes das IFES.Em primeiro lugar, o PROIFES não é uma 'facção', e sim uma entidade nacional representativa dos professores das IFES. Tem sede em Brasília e reúne hoje mais de 20.000 docentes de 35 IFES. No processo de consulta que resultou na assinatura do Termo de Acordo do Ensino Superior o PROIFES ouviu mais de 4.000 professores em todo o país, não só através de consultas eletrônicas como através de votações em urna, assembléias gerais, etc. Vale a pena informar que, para não assinar o mesmo documento, a ANDES consultou 445 em assembléias gerais, várias delas controvertidas, realizadas por suas ADs (dados obtidos da página dessa entidade).

(BLOG)Não temos condições de verificar os dados fornecidos, mas causa-nos estranheza porque diante de uma adesão tão expressiva, somente 5 AD´s estão formalmente filiadas ao PROIFES de acordo com a página da entidade nacional (consulta em 29 de Abril Às 12:30h).

Em segundo lugar, o autor do artigo 'Vazamento' de tabelas parece desconhecer os seguintes fatos básicos:1) As negociações entre Governo (MEC e MPOG) e entidades representativas dos professores (PROIFES, ANDES e SINASEFE) começaram em agosto de 2007, e terminaram, respectivamente, em 05 de dezembro de 2007 (Ensino Superior), com assinatura de Termo de Acordo entre o Governo, PROIFES e CUT; e em 20 de março de 2008, com assinatura de Termo de Acordo entre Governo, PROIFES, CUT e, posteriormente (04 de abril) SINASEFE.

(BLOG)Isto é do nosso conhecimento sim, o que não é do nosso conhecimento é em quais assembléias com a presença de docentes reais o PROIFES consultou suas bases sobre a participação da CUT nas negociações.

2) A ANDES não assinou nenhum dos dois Termos de Acordo;

(BLOG)Também é do nosso conhecimento e o fez com base nas deliberações de Assembléias que grandes ou pequenas têm livro de presença permitindo a verificação do quorum real ao contrário das votações hipotéticas realizadas por consultas eletrônicas na Internet, sem a identificação real do docente, que são promovidas pelo PROIFES.

3) Como conseqüência, as entidades credenciadas a publicar informações sobre os Termos de Acordo assinados por elas e respectivas tabelas são: em relação ao Ensino Superior, o PROIFES; e em relação ao Ensino Básico, Técnico e Tecnológico, o PROIFES e o SINASEFE.Portanto, informo-os que as TABELAS publicadas nas páginas do PROIFES (Ensino Superior) e nas páginas do PROIFES e SINASEFE (Ensino Básico, Técnico e Tecnológico) são as pactuadas entre essas entidades e o Governo, daí decorrendo que o termo 'Vazamento' só pode ser usado por alguém que desconhece a realidade ou pretende deformá-la.

(BLOG)Neste particular ponto a crítica do artigo não é dirigida ao PROIFES por publicar as tabelas, mas ao governo por não fazê-lo amplamente aos mais de 55.000 professores das IFES em todo o país.
Em terceiro e último lugar, sugiro aos leitores desse blog a leitura do Boletim 12 do PROIFES (ver página da entidade, www.proifes.org.br), em que todo o processo de negociação (tanto do Ensino Superior quanto do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico) está cuidadosa e fielmente detalhado. Apenso ao Boletim 12 citado estão as tabelas finais, que deverão ser publicadas em instrumento legal a ser publicado pelo Governo, de acordo com os compromissos assumidos nos Termos de Acordo assinados.

(BLOG)Pelo nosso lado sugerimos aos leitores do blog e a todos os demais que leiam as notícias dos jornais de hoje para constatarem que com a exceção do acordo com os militares todos os demais acordos com servidores públicos estão na dependência de um suplemento orçamentário, o que demonstra a fragilidade do próprio acordo. Fragilidade, que em parte, deriva da dispersão da representação dos docentes das IFES após a criação do PROIFES.
Atenciosamente,
Professor Dr.Gil Vicente Reis de Figueiredo,
Universidade Federal de São Carlos, SP.
Presidente do PROIFES.
Segunda-feira, Abril 21, 2008 6:51:00 PM
O Observatório da Universidade é uma iniciativa independente, não vinculada ao ANDES, nem a nenhuma outra entidade ou partido político, que pretende promover o debate crítico e aberto sobre as questões da universidade e de seus protagonistas.
Professor Luis Paulo Vieira Braga
Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ.
Administrador do Observatório da Universidade
Terça-feira,29 de Abril de 2008.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Praia Vermelha Business Center

Praia Vermelha Business Center


O Conselho Universitário reunido hoje, dia 10 de abril de 2008, foi suspenso por determinação do Reitor que julgou não haver condições para sua continuidade, em vista da ocupação da sala de reuniões por cerca de trezentos estudantes que protestavam contra a votação sumária do novo plano diretor da UFRJ. Não foi uma boa reunião para o Reitor que teve, logo ao seu início, de anunciar a saída, a pedido, da professora Angela Rocha, decana do CCMN, da Comissão de Desenvolvimento do CONSUNI. Precisamente a Comissão envolvida com a tramitação do plano e em particular se tratando de uma dirigente que liderou no seu Centro e no CONSUNI a formulação do PRE-REUNI na UFRJ.

O plano diretor é ambicioso e não esconde isso ao afirmar no item 8.1, à página 26: ”O Plano de Reestruturação e Expansão e o Plano Diretor UFRJ 2020, que constitui sua faceta físico-territorial-patrimonial, apontam para uma ambiciosa transformação de nossa Universidade, sem paralelo nos últimos 40 anos. Eles não terão qualquer possibilidade de sucesso se, além dos recursos financeiros, não contarem com os recursos da inteligência, criatividade, engajamento e vontade política do conjunto da comunidade universitária. ” Pelo ocorrido hoje, aparentemente, está sobrando engajamento e vontade política, porém no sentido oposto ao indicado pelo plano.

Ao incorporar a totalidade das propostas do PRE-REUNI, mesmo aquelas que, de acordo com a votação no CONSUNI no ano passado, deveriam ser debatidas este ano, como é o caso da transferência das unidades de ensino da Praia Vermelha e a implantação dos bacharelados interdisciplinares e dos ciclos básicos amplos (Módulos II e III do PRE-REUNI da UFRJ) o plano diretor despertou contra si toda a animosidade que existe contra a compulsória reestruturação a que estão sendo constrangidas todas as instituições federais do país. Evidências disso são abundantes no documento. Por exemplo, nas Diretrizes Complementares à página 13, ao tratar das ¨Ações prioritárias para investimentos com recursos do orçamento 2007-2008¨ o documento indica que até 28 de abril deve ser apresentada para deliberação neste Conselho uma definição de área na Ilha do Fundão para a construção de prédio, em módulos, para abrigar salas de aula para novos alunos do CCJE, CFCH e CLA.

A pressa, dizem, é inimiga da perfeição, mas freqüentemente se dá muito bem com a contrafação. Na nota de rodapé número 18, à página 27, temos as seguintes indicações de ocupação: ¨...existem igualmente propostas para a edificação, na Praia Vermelha, de prédios para uso do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e para criação do Museu da Energia, para a edificação de um prédio para centro cultural e sede de empresas públicas e privadas, para a implantação de um hospital privado e para um prédio para laboratórios e consultórios médicos¨. Os projetos comerciais se integram assim à expansão do Rio Sul pela Brascan.

Estão certos os estudantes ao cobrarem sua cota neste latifúndio, ou dele só terão os palmos de suas covas.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Mulhol Land

Mulhol Land


Na terra do Reitor da Universidade de Brasília (UnB) e também presidente do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB) prosperou a solução da complementação das verbas orçamentárias para custeio e salários pela remuneração de serviços através das fundações de apoio não governamentais. Iniciativa de professores da própria universidade essas fundações proliferaram nos campi federais e estaduais de todo o país e vêm recentemente sendo envolvidas em toda a sorte de escândalos, desde a contratação de familiares de dirigentes até a aplicação irregular de seus recursos, como parece ser o caso da UnB. A lei 8.112 de 11 de dezembro de 1990 prevê no Artigo 117 item IX que ao servidor é proibido valer-se do cargo para lograr proveito pessoal, também prevê no Artigo 147 o afastamento preventivo do servidor para que o mesmo não venha influir na apuração da irregularidade. Com a instauração formal do inquérito no Ministério Público Federal todos os elementos formais para o afastamento do Reitor da UnB estão disponíveis. Mas o impasse criado com a ocupação da reitoria pelos estudantes não termina com o afastamento do Reitor. Ela é muito mais profunda e advém do paradigma adotado para a obtenção de verbas extra orçamentárias.

A questão não pode ser tratada como uma questão de fé religiosa, caracterizando como pecaminosa qualquer forma de prestação de serviços, pois neste caso até o MST de Stédile, orador da aula magna de 2008 na UFRJ, sai respingado, ao manter convênios desta natureza com várias universidades. Como o projeto de reforma universitária desandou, a questão da autonomia financeira e de gestão das IFES foi varrida para baixo do tapete. A conseqüência foi o crescimento e a criação de fundações privadas de apoio. Os escândalos não se limitam a Brasília, recentemente uma das Fundações que operam na UFRJ, a fundação José Pelúcio, nome de um honrado e eficiente gestor da FINEP, já falecido, viu-se recentemente envolvida em um escândalo, com a prisão de alguns de seus dirigentes. Além desta, outras fundações operam na UFRJ: FUJB, COPPETEC, BIORIO e Charles Darwin - uma emblemática denominação. O marco legal existente para o controle destas fundações, seu credenciamento junto à universidade e deferimento dos convênios estabelecidos tem se revelado insuficiente para regular adequadamente o seu funcionamento. Duas alternativas se colocam: incorporá-las à estrutura da universidade, recuperando assim a publicidade, impessoalidade e transparência das suas atividades; ou manter o “laissez faire” , a terra de Mulhol.

A necessidade de integrar as fundações à administração central da universidade não decorre exclusivamente da prevenção de novos escândalos, mas também de ordenar o impacto que estas atividades estão tendo na vida acadêmica e administrativa da universidade que não é corretamente compensado com o simples pagamento de “overhead” . Muitas vezes as condições mínimas de instalação de um docente, ou mesmo de uma sala de aula só são possíveis para quem tem projetos, já quem não tem , fica como está... O potencial de convênios lucrativos vem também alterando o perfil de temas de pesquisa e de cursos. A proliferação de cursos de curta duração (3 anos) no rastro do REUNI demonstra isto claramente, e os seus autores nos acusavam há um ano de querermos a formação precoce do aluno... A diferença entre a universidade pública e a particular não deve se resumir à cobrança ou não de mensalidades. A universidade pública, como instrumento de Estado e não de governo, deve ter objetivos de longo prazo e de amplo alcance, não pode proceder como uma empresa do setor de varejo. Infelizmente foi um presidente professor que deu início a esta descaracterização, e é um descaracterizado presidente operário que lhe dá seguimento.

Ao concluir este texto não poderia deixar de comentar o andamento de mais uma metamorfose nas deliberações do CONSUNI da UFRJ, desta vez relativa à formulação das diretrizes para o plano diretor da universidade. A origem desta formulação se deu em fevereiro deste ano quando o CT , a COPPEAD e o núcleo de ensino a distância da UFRJ apresentaram projetos de prédios com recursos próprios. A fim de dar uma ordenação a estas e futuras propostas uma comissão foi encarregada de elaborar um anteprojeto de diretrizes. No entanto o documento que vai para deliberação na quinta-feira próxima, dia 10 de Abril, tem trechos como o seguinte: “Definir área e localizar geograficamente no Campus da Ilha da Cidade Universitária obras para construção de um prédio, em módulos, para abrigar inicialmente salas de aula para novos alunos do CCJE, do CFCH e do CLA, que ingressarão na UFRJ a partir de 2009, apresentando estudos de viabilidade técnica e propostas orçamentárias da(s) alternativa(s) possível(is), ouvidos as unidades acadêmicas, órgãos suplementares e centros universitários envolvidos; definir igualmente área e localização para instalar a biblioteca unificada de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, contígua ao prédio objeto dessa ação.” Item 4 das ações prioritárias, pág. 13. De acordo com o PRE aprovado no ano passado pelo CONSUNI, o módulo I era para execução imediata, porém os módulos II e III deveriam ser submetidos a discussão e elaboração de metas. Portanto tudo nestas “diretrizes para o plano diretor” que diga respeito a estes módulos é extemporâneo. Resta apenas verificar se o rito de votação vai seguir os mesmos moldes do ano passado.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Vazamento de tabelas


Tal qual um dossiê sobre gastos com cartões corporativos, as tabelas com os futuros salários dos docentes vêm sendo vazadas para a comunidade de professores das IFES através da página do PROIFES. É até compreensível que o ANDES fique de castigo e não receba informação nenhuma, mas e a mídia ? Por que o MEC e o MPOG não distribuem um press release com as propostas oficiais ?

Pois bem, mais uma vez são divulgadas oficiosamente novas tabelas salariais, desta vez não correspondem a nenhum anexo de ofício do MPOG, e as mudanças que ali estão, correm por conta e risco de quem acredita na fidelidade dos documentos. Há mudanças para melhor – houve um pequeno aumento para os adjuntos IV com doutorado, e também para os adjuntos com mestrado, de forma que o piso mínimo do aumento passa a ser efetivamente de 10% para os DE. Foram incluídas também tabelas com o detalhamento da composição dos vencimentos. E neste caso os professores que têm anuênios e ganhos judiciais terão um aumento menor, pois o vencimento básico não se altera em 2008, e depois do aumento em 2009, fica fixo em 2010.

Por outro lado, continuam inexistentes as tabelas para 40h ou 20h (consulta ao sítio do PROIFES em 9 de abril, às 23h) que atingem cerca de 8.000 professores, bem mais do que o PROIFES e o ANDES conseguem reunir em suas assembléias presenciais ou virtuais por todo o país. A gangorra entre GAE e titulação também continua rangendo em nossos ouvidos. Do ponto de vista dos professores federais de 1o e 2o grau o aspecto mais crítico e que não foi comentado é que, ao contrário dos professores de nível superior, foi proposta uma nova carreira, mas sem o plano de carreira. Assim o docente que optar pela nova carreira só tem a informação dos cargos mas não das regras de ascensão, o que não é o caso dos professores de nível superior que têm conhecimentos das regras de progressão horizontal e vertical. O fato do PROIFES ter assinado o acordo antes do SINASEF que é o maior sindicato da categoria, seguido pelo ANDES que representa os professores dos Colégios de Aplicação, demonstra o quão nervosa é a mão direita desta associação.

Sem CPI para convocar ministros que esclareçam e confirmem as propostas vazadas, ficam os docentes na expectativa de uma medida provisória, ou de um decreto lei que venha trazer algum alento à precária situação salarial em que se encontram, obrigando-os a toda sorte de empreendedorismo virtuoso ou vicioso.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Contracheque do futuro

Contra-cheque do futuro


Desde novembro do ano passado os docentes das IFES vivem a beira de um ataque de nervos por causa das indefinições que cercam o projeto salarial do governo. Após meses de conversações, o governo bateu o martelo com a Central Única! dos Trabalhadores (CUT) e a facção PROIFES. Naquela ocasião foi anunciado mais "um nunca na história deste país" os professores receberiam tão bem. Até seria verdade se não fosse o detalhe de que o aumento seria diluído ao longo de três incertos anos. Incerteza comprovada na derrubada da famigerada cpmf que serviu de falso pretexto para que o governo suspendesse os compromissos assumidos. Compromissos que não eram nenhuma das sete maravilhas salariais do mundo moderno, pelo contrário, a cada conquista correspondia um retrocesso. Incorporava-se a GAE porém desincorporava-se o adicional por titulação. Aumentava-se o vencimento básico no primeiro ano, mas congelava-o nos anos seguintes. Dava-se paridade entre ativos e aposentados, contudo aumentava-se a distorção da malha salarial, criando-se "steps" demasiadamente elevados sem aparente justificativa racional, como, por exemplo, aquele existente entre Adjunto IV e Associado I. Ou ainda, na total falta de proporcionalidade entre os regimes de 20h e 40h, tornando a hora do professor 40h mais barata do que a do professor 20h, independentemente da "produtividade" de um, ou de outro... Ou seja, uma visão mais radical ainda de quebra de isonomia, do que aquela praticada pela Secretária de Educação do Estado de São Paulo.

O ano novo começou cercado de mistério sobre o futuro salarial dos funcionários públicos e também de muitos itens do orçamento. Entretanto, se o governo desejava levar adiante o projeto do REUNI, não poderia ignorar as necessidades salariais daqueles que seriam seus principais protagonistas – os professores. Assim nesta Quinta-feira última, 13 de março, o circo midiático governamental brindou a academia com um mimo irrecusável – dinheiro. Dinheiro para o REUNI, para os salários, enfim, tudo aquilo que havia sumido com a cpmf, voltou com juros turcos para a promoção da justiça e solidariedade. Entretanto, o docente que procurasse se informar nos sítios oficiais do Ministério do Planejamento ou da Educação nada encontraria (consulta dia 14 de março às 21h) . No sítio do ANDES se depararia com a nota de que solicitação de informação feita ao governo fora negada sob o pretexto de que o ANDES não havia participado da negociação e portanto não merecia ser informado...

Só restava uma alternativa – o sítio da facção ! E lá estavam as tabelas de um anexo de um ofício do MPOG de 6 de março de 2008 para o regime DE. Não foi possível encontrar as tabelas para os regimes de 20 e 40 horas (consulta dia 14 de março às 21h). O texto que acompanha as mesmas informa que a GAE não será mais incorporada em 2008, mas somente em 2009. A tabela apresenta somente a remuneração final que coincide com a remuneração final das tabelas de novembro de 2007. Porém, diferentemente daquelas, não detalha a composição da remuneração, isto é, vencimento básico, gae, ged, etc..., o que impede que os professores calculem quanto vão ganhar de fato. Por exemplo, se o vencimento básico não aumentar, a GAE também não aumenta, tampouco as receitas provenientes de causas salariais ganhas. Assim, um professor adjunto IV, DE, com doutorado, que tem 26,05% , mais 3,17%, terá como único aumento bruto, o reajuste da GED, que dá o módico valor de R$ 863,23 ! O que vai dar para esta categoria um aumento inferior a 10% para o ano de 2008. Este é o resultado da participação ativa e propositiva da CUT e do PROIFES na defesa dos companheiros adjunto IV. Na proposta de novembro de 2007, pelo menos no primeiro dos três anos o vencimento básico aumentava. No caso dos adjuntos IV, DE, com doutorado, de R$ 1.376,11 para R$ 2.505,17. Puxando assim um aumento ainda maior dos vencimentos via os percentuais mencionados acima.

Não somos loucos a ponto de rasgarmos dinheiro, nem tampouco tolos para considerarmos esta proposta benéfica para a categoria. Entretanto, temos um trunfo que não tínhamos no passado – o REUNI. Uma universidade do futuro não é possível com contracheques do passado, as negociações salariais precisam ser retomadas com o conjunto completo dos representantes dos docentes das IFES.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Toque de REUNIr


Toque de REUNIr


Antes mesmo do reinício (tardio) das aulas na graduação, os professores do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza receberam via e-mail uma convocação da administração superior para discutir a proposta do Bacharelado (Interdisciplinar) em Ciências Matemáticas e da Terra. O curso faz parte do pacote aprovado em 25 de outubro de 2007 pelo CONSUNI, denominado Programa de Reestruturação e Expansão da UFRJ (PRE). Devido às resistências manifestadas pelo corpo social da universidade, a referência formal ao REUNI(1) foi retirada do documento final. Pelo mesmo motivo foi proposto um alongamento do prazo de discussão dos módulos II e III do processo de reestruturação, a saber: ciclos básicos por centro e bacharelados interdisciplinares. Apesar disto, a proposta, originariamente, apresentada pela Decania do CCMN foi classificada como curso novo, sendo mantida no Módulo I do PRE que se encontra presentemente em fase de formalização. Apresentamos em seguida alguns pontos polêmicos da proposta os quais contradizem as metas almejadas com a sua eventual realização.

No PRE aprovado no CONSUNI o curso prometia criar até 2012, 310 vagas no turno diurno e 480 no turno noturno(Anexo I, Planilha Curso Novos de Natureza Interdisciplinar). No entanto, à página 13, do documento distribuído juntamente com o e-mail, os números são bem diferentes: 255 = 800 – 545 vagas no diurno e 425 = 650 – 225 no noturno. Para 2009 são previstas apenas 145 vagas novas no turno diurno.

Há controvérsia também nas metas qualitativas enunciadas à página 4, Este curso tem por objetivo formar profissionais, em nível superior, com uma sólida base conceitual e matemática nas áreas de ciências da Natureza, da Terra e da Matemática, capazes de aplicar e desenvolver as tecnologias necessárias à aplicação desses conhecimentos em sua vida, tanto profissional quanto pessoal. Examinando a grade curricular dos quatro primeiros períodos(2), constatamos que a profundidade do conteúdo está bem abaixo do que é praticado hoje nos cursos regulares do Centro. Embora o projeto permita, em tese, ao aluno migrar para um dos bacharelados tradicionais, a vaga não está garantida, pois depende de um índice descrito à página 13 que se baseia no número de disciplinas cursadas, no coeficiente de rendimento e no número de períodos cursados desde a entrada no curso (?). Caso o aluno não queira migrar, pode se candidatar, segundo os mesmos critérios, a obter uma habilitação específica (3) em mais um ano, ou ainda montar juntamente com o seu orientador, sujeito a aprovação do colegiado, uma grade de disciplinas que lhe garanta o ambicionado diploma. Ora, isto em nada se parece com o perfil objetivado no preâmbulo do documento. Ou alguém acredita que se possa formar em três anos um profissional com estas características ?

Os pressupostos educacionais do PRE passaram por várias metamorfoses ao longo dos embates no ano passado. A precocidade era um dos males a se combater. Aparentemente, a proposta apresentada vai na direção oposta – formar em três anos um profissional altamente especializado. Outro tema recorrente é o da interdisciplinariedade, que nos documentos da Reitoria já se chamou de transdisciplinariedade. Também aí reside um equívoco de concepção e uma incompatibilidade de implementação. Promover a interdisciplinariedade não é ensinar um pouco de tudo, mas, uma atitude, uma mentalidade. Em uma equipe interdisciplinar, mais do que nunca serão necessários matemáticos, físicos, químicos que possam dar respostas aos complexos problemas das áreas interdisciplinares. O desafio maior para a formação deste profissional e à sua atuação em ensino e pesquisa reside na atual estrutura organizacional das universidades federais, intocada em toda a discussão.

O PRE da UFRJ é conseqüência do REUNI, cujo objetivo principal é aumentar o número de formandos nas universidades públicas. Está mal formulado, como tantos outros projetos do governo federal nas áreas da educação, meio ambiente, infraestrutura, etc... E da mesma forma que em outros casos conhecidos, vem sendo imposto à comunidade universitária através da cooptação ou da chantagem. Aos mais volúveis, as mordomias que os cargos públicos não cessam de proporcionar. Aos que resistem, as ameaças e o ostracismo. Reproduz-se no interior das universidades o mesmo quadro de apropriação do estado pelos seus governantes, que por sua vez defendem interesses cada vez mais particulares, em detrimento de uma visão republicana em prol da coletividade.

A destruição do estado de direito vem se fazendo de forma distinta daquela que foi perpetrada pelo regime militar, mas se aproxima do mesmo resultado. A insensibilidade dos dirigentes diante dos equívocos que vêm sendo cometidos só encontra explicação no conformismo de uns, e no oportunismo de outros. Evidentemente, este retrocesso histórico vai colidir com as necessidades de um estado de direito moderno e democrático que a sociedade brasileira está a exigir.

(1)denominação do decreto presidencial que implantou a nível nacional a sistemática de reestruturação acadêmica das universidades federais.

(2) As cadeiras com (ead) serão ministradas a distância. As disciplinas de Inovação são palestras proferidas por especialistas em diferentes áreas. A composição de obrigatórias e optativas vai depender da habilitação específica almejada pelo aluno e isto já pode ocorrer a partir do segundo período.

(3) A aceitação também depende do índice já descrito. As habilitações mencionadas são: Análise de Suporte à Decisão, Física-Matemática e Sensoriamento Remoto.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

O Corte

O corte

Em 2005 Costa Gravas nos brindou com mais uma realização genial - Le Couperet - traduzido no Brasil como - O Corte. Conta a estória individual de um quadro de uma corporação que leva às últimas conseqüências sua luta para se manter na empresa em virtude de um programa de reestruturação.

Desde o fim da CPMF parecemos viver mais intensamente um processo semelhante no setor público, em geral, e na educação em particular. As assustadoras afirmações dos governantes, antes da votação no Senado, não convenceram a um número suficiente de políticos para votar a favor do imposto sobre a movimentação financeira. Se o tom do desastre diminuiu após o fato consumado, a tesoura, ou melhor, a foice continua martelando as cabeças mais salientes no caldeirão da concessão de verbas.

Neste contexto foi divulgada no dia 17 último uma nota assinada pela ANDIFES, CNTE, CONTEE, FASUBRA, PROIFES, UNE e UBES, entidades que têm, na maioria das vezes, se alinhado com a política governamental, em geral, e com a política educacional em particular. Como toda a súplica de um súdito ao soberano, apresenta como justificativa principal que os desígnios do amo não poderão ser alcançados sem os recursos que serão subtraídos por força dos ajustes orçamentários.

A nota, já pronta, foi encaminhada pela secretaria executiva da ANDIFES também ao ANDES-SN, no dia 16, com uma consulta sobre o seu apoio, sendo que a divulgação seria feita no dia seguinte. Acertadamente a Diretoria Nacional do ANDES respondeu que não poderia fazê-lo e informou aos 254 delegados das 66 seções sindicais presentes à plenária do 27o Congresso do ANDES os motivos da recusa.

Segundo a nota, a falta de acesso à educação leva à desvantagem na busca do emprego e de melhores condições de vida, o que é uma redução simplista dos problemas do mercado de trabalho e da situação social do país que, obviamente, não poderão ser resolvidos simplesmente pela via da diplomação, além de incorporar o desvio de finalidade, de que a escola básica e a universidade existem para formar mão de obra.

Em outro parágrafo a ameaça à viabilidade do FUNDEB é mencionada como mais um motivo para se poupar a educação dos cortes orçamentários. Ora, o processo de implantação do FUNDEB está longe de ser consensual, em parte, pelas gratificações por produtividade que poderão legitimar as escolas eficientes e aquelas que são ruins porque seus professores e alunos não se dedicam...

No parágrafo relativo a ameaça à formação de técnicos, defrontamo-nos com a polêmica transformação da rede de escolas técnicas em institutos (IFETS). Portanto, também aqui, vemo-nos diante de uma política governamental ameaçada em sua execução pelo próprio governo que a concebeu...

Em outra parte o texto manifesto alerta para a ameaça aos programas de expansão recentemente aprovados. Ainda estão em nossas memórias as cenas de confronto no interior das universidades sobre estes programas, impostos por decreto governamental, e que estão longe de serem consensuais. Estaria o governo, após um ano de embates, fazendo aquilo que a oposição ao REUNI não conseguiu ?

Ao final do texto uma incongruência, afirma-se que a renda nacional está sendo crescentemente apropriada por interesses particulares, remetendo-nos para duas alternativas: açodamento na redação ou ato falho. A renda nacional é a soma de todas as rendas recebidas pelos proprietários dos fatores de produção utilizados durante o ano, portanto ela é por definição privada, os impostos não são incluídos em seu cálculo. Ou, os autores teriam querido dizer impostos ao invés de renda ?
Neste imenso palco que é Brasília todo cuidado é pouco. Do caos que sobreviria ao fim da CPMF ao velho balcão de trocas políticas o nome do povo é mais uma vez invocado em vão. Palavras de ordem o vento traz, o vento leva, assim como os ministros, políticos e dirigentes, mas o registro da história, este permanece para as atuais e futuras gerações.