terça-feira, 27 de março de 2007

Por Uma Universidade Caipira

No hotel do 26o Congresso do Andes-SN, em Campina Grande, havia uma exposição de CDs de uma loja de São Paulo especializada em música brasileira, onde adquiri uma coletânea de forró da Kuarup Discos, muito boa (Só Forró II), pena que não tenha conseguido obter o primeiro volume, do qual cheguei a ouvir partes, mas alguém chegou antes de mim e comprou.

No volume que adquiri, há músicas fantásticas, incluindo clássicos de Luiz Gonzaga, mas uma delas me chamou a atenção, por ser uma crítica contundente à invasão cultural, cuja letra reproduzo abaixo (atenção à transcrição fonética):

Nóis é Jeca Mais é Jóia
(Juraildes da Cruz)

Se farinha fosse americana
mandioca importada
banquete de bacana
era farinhada (bis)

Andam falando qui nóis é caipira
qui nossa onda é montar a cavalo
qui nossa calça é amarrada com imbira
qui nossa valsa é briga de galo

Andam falando qui nóis é butina
mais nóis num gosta de tramóia
nóis gosta é das minina
nóis é jeca mas é jóia
mais nóis num gosta de jibóia
nóis gosta é das minina
nóis é jeca mais é jóia

Se farinha fosse ... (bis)

Andam falando que nóis é caipira
qui nóis tem cara de milho de pipoca
qui o nosso roque é dança catira
qui nossa flauta é feita de taboca
nóis gosta de pescá traíra
ver as bichinha gemendo na vara
nóis num gosta de mintira
nóis tem vergonha na cara
ver as bichinha chorando na vara
nóis num gosta de mintira
nóis tem vergonha na cara

Se farinha fosse ... (bis)

Andam falando qui nóis é caipora
qui nóis tem qui aprender ingrêis
qui nóis tem qui fazê xuxexo fora
deixe de bestage
nóis nem sabe o portuguêis
nóis somo é caipira pop
nóis entra na chuva e nem móia
meu ailóviú
nóis é jeca mais é jóia
tiro bicho de pé com canivete
mais ja tô na internet
nóis é jeca mais é jóia

Se farinha fosse ... (bis)


É bom ver que a cultura popular nada tem de alienada, mas boa parte de nossos colegas da elite intelectual da universidade acha que o mais importante é reproduzir e fazer mesuras ao que se faz lá fora, sem preocupação com referências à nossa cultura. Em muitos, a chamada excelência está mais na simples submissão: Sim, excelência! Pois não, excelência! Claro, excelência!

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