21 de Abril do século XXI
Aproximamo-nos de mais um vinte e um de Abril que a educação cívica obrigatória transformou em mera alegoria do Brasil “oficial”. Mais um justo, injustamente, morto. E são tantos, que foi preciso transformar o país em um enorme Largo da Lampadosa. Ou não são mártires da independência aqueles que morreram doentes, desassistidos, na rua ou em hospitais precários ? Ou ainda aqueles que morreram como vítimas da epidemia de violência urbana e rural ? E tantos outros, cuja morte ainda é um segredo bem guardado nos arquivos dos conchavos políticos ? Aos senhores de ontem e de hoje, ilustres assassinos, dedicamos os incômodos versos do Romanceiro da Inconfidência.
Aproximamo-nos de mais um vinte e um de Abril que a educação cívica obrigatória transformou em mera alegoria do Brasil “oficial”. Mais um justo, injustamente, morto. E são tantos, que foi preciso transformar o país em um enorme Largo da Lampadosa. Ou não são mártires da independência aqueles que morreram doentes, desassistidos, na rua ou em hospitais precários ? Ou ainda aqueles que morreram como vítimas da epidemia de violência urbana e rural ? E tantos outros, cuja morte ainda é um segredo bem guardado nos arquivos dos conchavos políticos ? Aos senhores de ontem e de hoje, ilustres assassinos, dedicamos os incômodos versos do Romanceiro da Inconfidência.
Romance LXXXI ou dos ilustres assassinos
Cecília Meireles – Romanceiro da Inconfidência
Ó grandes oportunistas,
sobre o papel debruçados,
que calculais mundo e vida
em contos, doblas, cruzados,
que traçais vastas rubricas
e sinais entrelaçados,
com altas penas esguias
embebidas em pecados !
Ó personagens solenes
que arrastais os apelidos
como pavões auriverdes
seus rutilantes vestidos,
-todo esse poder que tendes
confunde os vossos sentidos:
a glória que amais, é desses
que por vós são perseguidos
Levantai-vos dessas mesas,
saí das vossas molduras,
vede que masmorras negras,
que fortalezas seguras,
que duro peso de algemas,
que profundas sepulturas
nascidas de vossas penas,
de vossas assinaturas!
Considerai no mistério
dos humanos desatinos,
e no pólo sempre incerto
dos homens e dos destinos!
Por sentenças e decretos,
pareceríeis divinos:
e hoje sois, no tempo eterno,
como ilustres assassinos.
Ó soberbos titulares,
tão desdenhosos e altivos !
Por fictícia autoridade,
vãs razões, falsos motivos,
inultimente matastes:
vossos mortos são mais vivos;
e, sobre vós, de longe, abrem
grandes olhos pensativos.
Um comentário:
Il semble que vous soyez un expert dans ce domaine, vos remarques sont tres interessantes, merci.
- Daniel
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