A Noiva Síria
Parece que ganhamos algum tempo, nesses minutos que tínhamos, para decidir sobre o futuro de cerca de 50.000 candidatos que procuram o vestibular da UFRJ. De 14 dias no CCMN para 6 semanas na UFRJ, ainda é muito pouco, e parece carecer de metodologia adequada, que quanto mais longe do palanque estiver, melhor. Curiosamente, ainda não ouvi o que os alunos têm a dizer sobre as propostas inspiradas no REUNI, a sigla da hora, ninguém mais usa o termo Universidade Nova, de xodó a xabu, mas os princípios subjacentes ainda persistem.
A rejeição ao Bacharelado em Ciências da Natureza e Matemática (BCNM) se amplia quanto mais se reflete sobre a proposta, e ela vem não dos renitentes conservadores de sempre, mas de insuspeitos professores do CCMN, dentre os quais não me incluo, que vêm se expressando no forum do IM, do CCMN e no forum-prof. É verdade que suas intervenções estão pautadas pelos termos do decreto que criou o REUNI, e nesse ponto está o início e o fim do nó que não desata. Se os projetos submetidos ao REUNI não contemplarem suas diretrizes, então não terão chances de serem aprovados, por outro lado, incomoda aos docentes, sinceramente comprometidos com a missão da universidade de formar conseqüentemente bons profissionais e produzir conhecimento e cultura, aderir a propostas que serão pouco mais do que piscinões para reter por algum tempo a enxurrada de jovens em busca de seu lugar na sociedade.
As tautologias contidas no REUNI não incomodam a ninguém – reduzir evasão, aumentar a produtividade, interdisciplinariedade, etc..., mas, dado que o decreto foi um evento precedido da aula magna sobre a Universidade Nova, que por sua vez foi precedido de um manifesto assinado pelo ex e atual Reitor, inevitavelmente, a dinâmica das discussões seguiu o eixo dado por aquela concepção. A pressão financeira é o outro componente que desestabiliza uma abordagem mais equilibrada e racional do tema.
Um esboço de proposta alternativa ao BCNM surgiu hoje no forum do CCMN – a de um básico comum ao CCMN, exceto para geografia. Não é uma idéia nova, mas pelo menos é uma idéia que tem mais a cara da nossa realidade, embora eu também não concorde com ela. A motivação ainda provém do Universo Novo, combater a evasão, combatendo a precocidade da escolha. Será que os 1161 candidatos no vestibular de 2006 que optaram por computação podem ser considerados precoces ? Ou será que acomodar parte deles em um curso alternativo, menos competitivo, não vai torná-los de precoces a frustrados ? Ou meros diplomados? Não é melhor que busquem os seus sonhos em outra Universidade, ou tentem mais adiante uma recolocação no curso pelo qual optaram em primeira escolha ? A idéia subjacente ao ciclo básico que ora se propõe, é, supostamente, malthusiana -deixar aos melhores a opção de sentar nas primeiras filas de algum espetáculo, mesmo que não se interessem muito pelo recital. É melhor um bacharelando em Gravura (o de menor procura no vestibular) que queria fazer computação do que um bacharelando em Gravura que queria fazer Gravura, mas teve menos pontos do que o seu rival. É óbvio que alguma seleção vai ter de ser feita, mas que seja entre os bacharelandos da mesma espécie. E esse é o problema de entrada comum para todo o CCMN, a diversidade de escolhas é muito grande. Pode-se talvez imaginá-la para uma mesma unidade, porém generalizá-la ao nível de Centro... Por que não perguntam aos alunos, o que eles acham? Aos alunos...
A noiva síria cansada do embate entre as autoridades sírias e israelenses sobre o seu passaporte, decide o que tem de fazer, vai ao encontro de seu noivo. Assim também devemos fazer em relação aos projetos de reformulação acadêmica. À luz da nossa experiência, que não é pouca coisa, tendo como meta a nossa missão, devemos avançar as discussões e propostas e apresentá-las como sendo a nossa universidade nova. Caberá ao executivo o ônus de não nos deixar passar.
sexta-feira, 11 de maio de 2007
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