terça-feira, 8 de maio de 2007

Por quê decidir precocemente por um projeto que pretende eliminar exatamente a opção precoce?

Por quê decidir precocemente por um projeto que pretende eliminar exatamente a opção precoce?

O título é longo, quatorze palavras, já o projeto "Bacharelado em Ciências da Natureza e Matemática(BCNM)" apresentado pela Decania do CCMN, nem tanto, quatorze páginas, e o tempo para aprová-lo, preferencialmente, também, quatorze dias ! Começou assim o processo de implantação do Universidade Nova na UFRJ. Nem mesmo a Comissão de Alto Nível nomeada pelo Reitor emitiu seus parecer sobre a conveniência, ou não, em tese, da adesão da UFRJ ao REUNI*, e as Congregações do CCMN e seu Conselho Máximo deverão aceitar, aprimorar ou rejeitar uma proposta material de Bacharelado Interdisciplinar - a solução definitiva para eliminar a evasão de alunos e aumentar a produtividade institucional em geral, e docente, em particular.

Uma das causas elencadas para o problema da evasão é a deficiência de formação de muitos alunos, cada vez mais numerosos devido aos programas sociais, que não teriam condições de seguir os cursos regulares voltados para a formação de pesquisadores e licenciados. Assim se ofereceria um curso com menos conteúdo matemático e com mais disciplinas de formação geral. É uma solução típica dos tempos pós-modernos – resolve-se o problema de evasão, terminando o curso antes que os alunos vão embora. Para isso não era preciso inventar um Bacharelado, a UFRJ poderia fornecer um certificado de estudos superiores para todo aluno que completasse com êxito um mínimo de disciplinas.

A outra causa da evasão apresentada no projeto é a imaturidade dos alunos que optam por uma profissão que desconhecem. Além da falta de evidência empírica para essa afirmação, a mesma encobre uma visão paternalista do jovem que precisaria ser cuidadosamente questionado sobre suas opções antes de ter direito a exercê-las. A maturidade se ganha com a experiência, e ao contrário, do que afirma o documento, o jovem é capaz sim, de expressar suas tendências, seus interesses. O que é necessário modificar é a rígida burocracia que permeia a vida escolar.

Ao não identificar as causas mais profundas da reprovação, da repetência, do trancamento, enfim das dificuldades cotidianas dos alunos, o projeto ao pretender fazer justiça social, cria um sistema de "apartheid" no CCMN, ao manter os bacharelados difíceis de um lado e o BCNM de outro. A suposta ponte entre eles é uma falácia. Fazendo uma mera comparação entre as disciplinas obrigatórias do BCNM e aquelas do bacharelado em estatística, tem-se o seguinte quadro:BCNM ( 9 disciplinas de Física, 4 disciplinas de Química, 6 de Matemática, 1 de Computação, 1 de Estatística, 1 de Biologia, 1 eletiva); Bacharelado em Estatística ( 8 de Matemática, 6 de Estatística, 3 de Computação, 1 de Física, 2 eletivas). O que demonstra que só a transição para o ciclo básico do Bacharelado "hard" consumiria um ano de cursos, mais dois a três anos de ciclo profissional somando um total de seis anos para obter um bacharelado em estatística, desde que não houvessem reprovações, o que é altamente improvável.

A aprovação de projetos no REUNI está condicionada à redução da evasão (leia-se aprovação compulsória) e à duplicação de vagas, senão não há chance de ser aprovado. Provavelmente pensando nisso os proponentes do BCNM incluem no projeto à pag. 4, terceiro parágrafo o seguinte texto "Cada unidade deverá reavaliar as vagas a serem oferecidas no concurso vestibular; a diferença entre o número atual de vagas e o novo número de vagas será alocado, num primeiro momento, em dobro, como vaga para o novo curso ". É isso mesmo os professores vão trabalhar dobrado...

Desde a reforma universitária de 1968 não se via uma proposta de reformulação tão profunda na vida acadêmica das IFES. Aquela foi feita sob a égide da força, inspirada nos famosos acordos MEC-USAID. A atual vem sendo imposta pela pressão financeira, a mensagem da Decania começa apelando ao bom senso do bolso : "Com a adesão a este projeto a UFRJ poderá pleitear do MEC recursos adicionais (para novas construções, equipamentos, pagamento de pessoal, etc..) da ordem de 170 milhões de reais em 5 anos".

Esse é o seu preço ?

* REUNI foi implantado pelo decreto presidencial 9.096 de 24 de Abril de 2007

Um comentário:

Anônimo disse...

precoce? querido, o reuni est� ao menos 50 anos atrasado. essa universidade p�blica que voc�s defemde j� perdeu a vez h� muito tempo.