terça-feira, 30 de outubro de 2007

Olha só quem está falando !

Olha só quem está falando !

“Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”
in Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago


  • O descaminho do REUNI na UFRJ começou em Maio de 2007 graças à imposição pelo Reitor de uma alteração na resolução do CONSUNI que propunha constituir uma Comissão para avaliar o PDE. A inclusão da missão de propor diretrizes para ações anulou, totalmente, o caráter crítico proposto inicialmente. De uma atitude reflexiva, para a mera operacionalização de propostas em relação a apenas uma das linhas de ação do PDE. A comissão terminou por não cumprir a tarefa para a qual foi criada – avaliar o PDE e cumpriu a tarefa adicional sob pesadas críticas. Um controvertido relatório foi aprovado no dia 18 de julho, dando origem a um documento da Reitoria denominado PRE. Após muitas sessões públicas, com pouco público, o projeto de reestruturação da UFRJ foi aprovado em duas tensas reuniões do CONSUNI. Despido das marcas emblemáticas do REUNI, graças à pressão da oposição de alunos, professores e técnicos administrativos, mas ainda com muitos vícios da sua tramitação tortuosa, o projeto será finalmente encaminhado ao MEC.
  • No rescaldo dos recentes embates brotam aqui e acolá mensagens, declarações e convocações aos docentes atribuindo à ADUFRJ-SS o papel de operador da desordem e do desrespeito na UFRJ. Acusam-na de quase tudo – de orquestrar a invasão do CONSUNI, de malversação do dinheiro dos associados e de manipulação de votos para a eleição da diretoria da entidade. Para isso invocam até personalidades do mundo literário e filosófico – de Confúncio a Saramago, passando por Antonio Machado. Como já foi demonstrado, anteriormente, os lamentáveis incidentes do dia 18 tiveram origem no despreparo da Reitoria em organizar um evento com um potencial tão explosivo, envolvendo grupos de estudantes com posições políticas tão antagônicas – reunidos uns em torno da UNE, outros em torno do CONLUTE. Ou por desleixo, ou mesmo por oportunismo, a direção superior da universidade deixou de tomar as providências elementares para garantir a segurança da reunião. Não repetiu o erro na segunda reunião, ao retirar as escadas de acesso ao palco, ao colocar uma barreira de caixas de som e convocar mais seguranças. Mas, principalmente, chamando a oposição para conversar mais seriamente.
  • Os acusadores da ADUFRJ-SS reclamam das caneladas que levaram no dia 18, mas o que está lhes doendo mais é a consciência de que no dia 25 os princípios formadores da maior universidade federal do país ainda pesarem mais que o troco fácil dos editais de ocasião. E esta dor, que deve ser terrível, solta-lhes a língua de uma maneira pior ainda, fazendo-os emitir acusações que mais desmoralizam os acusadores, por suas inconsistências, do que aos acusados.
  • A verba de R$450.000,00 que, supostamente, teria sido transferida ao CONLUTE para promover invasões em todo o Brasil foi aprovada no 52o CONAD para o Fundo de Mobilização do ANDES no período de Agosto de 2007 a Janeiro de 2009. Este ano somente foi liberado R$ 150.000,00 para dois eventos: a Jornada da Educação de 20 a 24 de agosto e a marcha do dia 24 último em Brasília, que envolveu várias categorias de sindicatos e associações. Bem diferente portanto do que está sendo relatado.
  • Uma outra acusação, a de que a recém eleita diretoria da ADUFRJ se elegeu com o voto dos aposentados, também é falsa. O percentual não ultrapassa 10% e muito nos honra esses votos por parte daqueles que em outras épocas mantiveram viva a chama da educação pública, gratuita e de qualidade. Discutíveis foram os termos em que esta reitoria se reelegeu, colhendo resultados pífios em relação às eleições anteriores. As eleições foram uma sombra daquelas realizadas em Maio de 2003 quando 16.469 eleitores compareceram às urnas, para escolher dentre três chapas concorrentes. Nas antecipadas eleições desse ano a participação foi de 10.583 votantes, representando uma queda de 35,7 % ! Por outro lado o número de votos em branco foi de 76 em 2003 e 556 em 2007 representando um aumento de 731 % ! O número de votos nulos passou de 489 em 2003 para 614 em 2007, representando um aumento de 25 % . O colégio eleitoral de 2007 para a consulta foi contabilizado em 61.212 eleitores, desses a chapa única logrou obter 9.413 votos, ou seja 15% do total da comunidade universitária.
  • O recurso à mentira não é novidade na política, o mau “marketing” político desenvolveu a níveis nunca antes vistos a “desarte” de tornar sensual o que é repulsivo. E é exatamente desta matéria que se nutre a tentativa de abrir na UFRJ a dissidência denominada – PROIFES. Pregam o fim de um sindicato a nível nacional, porque pregam o fim da rede de universidades federais, em prol de um modelo de organização social, que dará a cada universidade uma dimensão própria, divorciada de um projeto nacional, emasculada e submissa ao termos do mercado. Mentem, ao divulgar tabelas salariais futuras como sendo propostas correntes. Mentem ao inflar seu número de associados. Mentem ao negar a ingerência partidária em suas deliberações. Mentem ao dizer que mais de cem docentes se desfiliaram da ADUFRJ nos últimos dias. Mentem ao dizer que vieram servir aos docentes. Vêm isso sim, para nos tornar servis docentes.

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