quinta-feira, 14 de junho de 2007

Estudantes forçam CONSUNI a discutir o REUNI !


Estudantes forçam CONSUNI a discutir o REUNI !

A reunião ordinária do Conselho Universitário da UFRJ (CONSUNI) DO DIA 14-06-2007 seguia normalmente, quando ainda na fase de expediente cerca de duzentos estudantes envolveram o plenário, entoando palavras de ordem em defesa da autonomia da universidade e contra a sua privatização. Em particular ao REUNI – solução definitiva para a evasão estudantil apresentada pelo MEC - se contrapunham pedidos por melhor assistência estudantil. A entrada dos estudantes se deu após algumas intervenções de conselheiros e de representantes de professores(ADUFRJ), e alunos(C.A.´s e APG) que em graus variados contestaram a implantação do REUNI na UFRJ. Em particular a conselheira representante dos estudantes – Renata(APG), encaminhou o pedido de que o tema REUNI fosse incluído na pauta da reunião. Diante da maciça manifestação dos estudantes, embora pacífica, o Pró Reitor de desenvolvimento, prof. Levi, que presidia a reunião (tanto o Reitor, como a Vice-Reitora estavam ausentes) manifestou a impossibilidade de se continuar a reunião, sugerindo transformá-la num amplo debate entre os conselheiros e os estudantes sobre o REUNI. O conselheiro representante dos funcionários, Agnaldo, apelou que o carater formal da reunião fosse preservado e se votasse a inclusão do assunto na pauta da reunião. Foi feita a verificação de quorum (29 conselheiros presentes) e a deliberação por consenso foi favorável à inclusão do tema como item prioritário da pauta, passando-se então a palavra aos inscritos.



O conselheiro prof. Vainer, membro da Comissão do CONSUNI-Reitoria para assuntos do PDE, embora se declarando crítico do PDE e do REUNI, é favorável à sua adesão pela UFRJ na medida que isso traga recursos para projetos que já estavam em gestação ou em desenvolvimento na UFRJ, devendo-se evitar o envio de projetos precoces, muitas vezes concebidos para obter recursos. O representante do C.A. da Economia destacou que as causas da evasão não eram contempladas no REUNI – bandejão, cursos noturnos, etc... e que os bacharelados com currículos desregulamentados não ajudariam seus portadores a atuar na sociedade nem como cidadãos, nem como profissionais. Os representantes da APG e da UEE destacaram a presente insuficiência orçamentária da universidade e a falta de docentes, o que por si só inviabilizaria qualquer expansão. A conselheira Renata (APG) em uma segunda intervenção criticou a Comissão do PDE por ter mais se dedicado à aprovação de propostas do que ao fomento de debates. Destacou o declínio no número de funcionários, a falta de docentes, o desemprego para os profissionais de nível superior como razões para que a Comissão do PDE crie um projeto adequado à UFRJ e não se limite às balizas do MEC. O conselheiro prof. Alcino, decano do CCJE, alertou para o alibi conservador do movimento contra o PDE, para ele, os estudantes poderiam estar sendo utilizados por aqueles que nada querem mudar na universidade, mantendo os feudos que só atendem à elite, citando a Faculdade de Economia e a de Medicina como exemplos. Defendeu ainda os Bacharelados Interdisciplinares como solução alternativa ao profissional formado para satisfazer ao capital. O conselheiro prof. Rui Cerqueira, Biologia, teme que alguns projetos do REUNI constituem uma ameaça real à universidade. O conselheiro prof. Marcelo,decano do CFCH, defendeu a participação no REUNI com dignidade e inteligência, para que não se acabe combatendo o desejável e o indesejável. Considera que só devam ser encaminhados os projetos com experiência acumulada. O conselheiro Valter, decano do CT, não vê contradicão em participar do REUNI e preservar a autonomia, destacou que há vários projetos já em andamento que podem se beneficiar de suas verbas – projetos de interiorização como os de Macaé e Cabo Frio. O prof. José Roberto, pró-Reitor de ensino de graduação, alertou para o problema da evasão e da pouca dedicação de parcela dos docentes ao ensino de graduação. Para ele a UFRJ não tem o direito de ignorar a evasão. O conselheiro prof. Almir Fraga, Decano do CCS, corroborou as críticas ao REUNI, advogando maior tempo para discussão e criticando a sua operacionalização na UFRJ. Para ele o processo deve voltar às unidades. A conselheira profa. Flora, do CLA, também advogou a volta do processo de discussão às unidades. No seu Centro apenas uma unidade apresentou projeto.



Devido ao avançado da hora e ao insuficiente quantitativo de conselheiros presentes, o prof. Levi, decidiu encerrar a reunião, comprometendo-se a solicitar ao Reitor que inclua o tema REUNI na próxima reunião do CONSUNI. Foi lembrado também que durante a próxima semana serão feitas as apresentações públicas dos projetos submetidos ao REUNI, esperando-se portanto ampla participação de docentes, discentes e técnicos administrativos nos debates que se seguirão. Essas apresentações ocorrerão, a princípio, na sala de reuniões dos Colegiados Superiores no período da tarde.



Os eventos desta Quinta-feira no CONSUNI expuseram de forma dramática a insatisfação que vai tomando conta da universidade diante de tantos problemas não resolvidos e das más metodologias adotadas para supostamente procurar suas soluções. Num quadro de crise salarial e carência de quadros tanto para os docentes, como para os técnicos administrativos (em greve desde de 30 de Maio), com o congelamento dos salários (PAC) e das vagas docentes (Banco de Professores Equivalentes), impõe-se por decreto um projeto de reestruturação das IFES, que pelas suas ambiguidades consegue ser acusado simultaneamente de neoliberal e proletarizante! Como se o objeto da discussão não fosse por si só suficientemente polêmico, a Comissão criada pelo CONSUNI-Reitor tomou caminhos que levaram ao presente impasse, ao impor uma operacionalização que provocou ressentimentos dentro da própria comissão, como se ficou sabendo hoje a partir das declarações do prof. Vainer(IPURR). Há os que dentro da comissão opõem-se ao REUNI mas querem extrair dele as verbas para projetos já em andamento, que sejam consistentes, com planos pedagógicos consolidados, e há os que são adeptos convictos do plano, e vêem nele a via para a implantação de Bacharelados Interdisciplinares e Ciclos Básicos por Centro de modo a poder acolher preferencialmente os segmentos mais marginalizados da sociedade. Ao invés de socializar o debate e a disputa em termos claros, procedeu-se de forma expressa, buscando aprovar todos os projetos, enraizados ou novos, nas unidades e centros, deixando para os colegiados superiores a tarefa de selecioná-los. Os fatos ocorridos hoje no CONSUNI mudaram o cenário de forma definitiva, acredito eu, tornando imprevisível o desfecho dessa disputa. Pelo simples fato de que a entrada da oposição estudantil e docente no jogo político, com posições de rejeição total ao plano, não fortalece nenhuma das tendências anteriores.



Desde o dia 24 de Abril, data da promulgação do decreto de criação do REUNI, e mesmo antes, na esteira da malfadada Aula Magna da Universidade Nova, a oposição docente organizada e espontânea vem dando sinais de inconformismo. Matérias em jornais, petições encaminhadas, intervenções nos Colegiados Superiores, nada até então demoveu a Comissão do PDE de sua marcha inexorável rumo à imposição de projetos. Resta saber se haverá sensibilidade dos dirigentes máximos da Universidade e dos demais atores em se aterem mais às razões de estado, do que às suas razões de militância partidária. Aguarda-se que nessa orquestra desafinada em que se tornou a UFRJ, o maestro deva enfim se fazer presente.

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